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quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Gólgota de Dunga

A poucos dias do fim desta edição da copa do mundo e ainda sentindo o gosto amargo de uma saída precoce da nossa amada seleção penta campeã da disputa de mais um “caneco”, penso um pouco sobre toda a carga emocional, sentimental, profissional que recaiu sobre os jogadores e sobre o nosso ex-técnico Dunga.

De herói a vilão, o nosso ex-técnico teve uma trajetória brilhante, instantânea e instável na nossa seleção e, como reflexo de sua caminhada, bastou o Brasil ser desclassificado da copa para que problemas surgissem e emergissem dentro do grupo, sua cabeça fosse caçada e sua imagem “tirada para Cristo”. Fato esse que ganhou a atenção de milhões de torcedores.

Desde que assumiu a liderança da equipe o nosso eterno zagueiro demonstrou-se um homem de personalidade forte, concentrado e decidido, mas também inflexível e muitas vezes cabeça dura. Basta analisar a composição da equipe formada para os jogos da copa. Uma equipe jovem, inexperiente em campeonatos à altura do que estavam participando, instáveis emocionalmente por carregarem uma “armadura” verde-amarela que por vezes parecia pesar em seus corpos. Não podemos negar que na “era Dunga” todos ficamos surpresos com a metodologia adotada por ele, principalmente no aspecto amar a camisa da seleção e amar a pátria, mas esse fato nos custou colocar em campo representando uma nação estrelas apaixonadas mas sem técnica de grupo, sem estratégia de jogo e sem coletivismo. E em mais uma edição adiamos o sonho do Hexa. Acabou-se o sonho, acabaram-se as festas verde-amarelas nas ruas, acabaram os feriados por causa dos jogos e acabou-se também a imagem de Dunga na seleção.

O que pretendo mostrar aqui é como essa situação que é tão antiga e que por situações diversas demonstra uma realidade emocional e espiritual latente. A inconstância de opiniões.

Como Dunga, o próprio Jesus foi vítima de uma multidão sem um opinião formada e concreta. A mesma massa que comemorava a cada novo milagre, a cada nova cura, nova multiplicação de pães fora a mesma que perante Pôncio Pilatos clamou pela crucificação de Cristo e libertação de Barrabás. Aqueles mesmos que sentados aos pés do Mestre ouviram o Sermão da Montanha e que faziam tumulto apenas para tocar em suas vestes, ou mesmo se amontoavam em árvores, praças ou terraços das casas para ouvir as maravilhas das boas-novas ditas por Ele, agora incendiados pela fúria dos fariseus e romanos pediam a morte do Mestre. De herói nacional e libertador à maldito e criminoso foi um passo rápido e certeiro.

O que fico a refletir é que enquanto cristãos deveríamos ser referenciais de caráter e de postura (seja o seu sim, sim e o seu não, não Mt. 5:37, assim como sermos aqueles os quais a voz ecoa no deserto ditando direções e perspectivas, porque temos em nós uma mente nova e transformada. Mas dentro de nossos lares, nossas escolas, nossas igrejas, temos cada vez mais cristãos sem opiniões, convicção ou visão firme e fundamentada. Temos formado pseudo-protestantes sem uma causa definida e sem ter fundamento sólido e caráter transformado para assumir uma responsabilidade tamanha a qual é ser chamado de cristão.

O que se vê hoje são igrejas com rios muito largos de uma espiritualidade difusa sem sequer um metro de profundidade de conhecimento doutrinário.

O reflexo disso está estampado no atual quadro religioso brasileiro. Atualmente é difícil ver igrejas ou cristãos que podem ser definidos ou identificados pela sua cosmovisão, testemunho e identidade cristã. É tamanha a falta de um posicionamento firme e claro nas mais diversas situações que não se consegue mais sequer discernir se essa ou aquela igreja é protestante (nome já em desuso no meio cristão), se esse ou aquele irmão que passa com a bíblia debaixo do braço é evangélico, católico da renovação carismática ou espírita. Isso, devido ao sincretismo que tem tomado conta da nossa fé, da nossa liturgia, da nossa doutrina e da nossa vida em geral.

Para entender o que estou falando basta ligar sua TV durante as madrugadas e você verá a salada de frutas religiosa nos programas dos tele-evangelistas. É uma mistura de espiritismo de mesa branca, macumbaria, com pitadas de misticismo e evangelho romano. Ou então, reservar um domingo a tarde e visitar as muitas, e por que não dizer excessivas, igrejas que há em seu bairro para perceber que não há mais uma clareza sobre quem estão anunciando, a quem estão cultuando e além disso, como estão cultuando.

Infelizmente é nesse quadro decadente e sombrio que nós temos sido desafiados a sermos claros e firmes, transparentes e convictos e acima de tudo refletir nesse mundo o soberano caráter de Cristo. Da mesma forma como nossa postura e aprovação ao nosso ex-técnico foi testada em sua jornada rápida e instável e subitamente o fizemos vilão e bode expiatório para o fracasso da seleção Canarinho, também temos sido confrontados à demonstrar nossa convicta razão de ser e estar em Cristo, a razão da nossa fé (1Pe. 3:15), nossa clareza naquilo que cremos e também mostrar a esse mundo vazio de posturas sólidas e firmes que o verdadeiro Evangelho passa pela via da certeza em quem temos crido e também nas certezas de quem somos, a quem servimos e a quem pregamos.

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