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domingo, 24 de fevereiro de 2008

- Attitudes -


- Há uma força operante... uma força q impulsiona e nos leva adiante...



Somos aquilo q acreditamos ser...



O tempo está chegando quando o homem não mais lançará a flecha do seu desejo para além de si mesmo e a corda do seu arco se esquecerá de como vibrar... O tempo está chegando quando o homem não mais dará à luz uma estrela. O tempo do mais desprezível dos homens.


“O tempo está chegando quando todas as águias se transformarão em galinhas”

A idéia desta estória não é minha. Meu é só o jeito de contar... Sobre uma águia que foi criada num galinheiro. E foi aprendendo sobre o jeito galináceo de ser, de pensar, de ciscar a terra, de comer milho, de dormir em poleiros...
E na medida que aprendia ia esquecendo as poucas lembranças que lhe restavam do passado. É sempre assim: todo aprendizado exige um esquecimento... e ela desaprendeu
Os cumes das montanhas
Os vôos nas nuvens
O frio das alturas
A vista se perdendo no horizonte
O delicioso sentimento de liberdade e dignidade...
Como não havia ninguém que lhes falasse destas coisas, e todas as galinhas cacarejassem os mesmos catecismos, ela acabou por acreditar que não passava de uma galinha com perturbação hormonal, tudo grande demais, aquele bico curvo, sinal certo de acromegalia, e desejava muito que seu cocô tivesse o mesmo cheiro certo do cocô das galinhas...
Um dia apareceu por lá, um homem que vivera nas montanhas e vira o vôo orgulhoso das águias.
“Que é que você está fazendo aqui?” perguntou.
“Este é meu lugar!”, respondeu. “Todo mundo sabe que galinhas vivem em galinheiros, comem milho, ciscam o chão, botam ovos e, finalmente, viram canja; nada se perde, utilidade total.”
“Mas você não é uma galinha, é uma águia”, disse o homem.
“De jeito nenhum. Águia voa alto. Eu nem se quer voar sei. Pra dizer a verdade, nem quero. A altura me dá vertigens. É mais seguro ir andando passo a passo...”
E não houve argumentos que mudasse a cabeça da águia esquecida. Até que o homem, não agüentando mais ver aquela coisa triste, uma águia transformada em galinha, agarrou a águia a força e a levou até o alto de uma montanha. A pobre águia começou a cacarejar de terror, mas o homem não teve compaixão: jogou-a no vazio do abismo. Foi então que o pavor, misturado a memórias que ainda moravam em seu corpo, fez as asas baterem, a princípio em pânico, mas pouco a pouco com tranqüila dignidade, até se abrirem confiantes, reconhecendo aquele espaço imenso que lhe fora roubado.
E ela, finalmente compreendeu que seu nome não era galinha, mas águia...
Esta estória foi escrita na África, um profeta dizendo aos seus companheiros:
“Vejam a que estado os brancos nos reduziram: águias que andam como galinhas... É preciso voar de novo...”
Mas eu senti que e ra muito mais que isto, porque comecei a ver galinhas espalhadas por todas as partes, e águias domesticadas e humilhadas, felizes por ciscar a terra e comer milho...
E me perguntei se não é isto que acontece nesta coisa que se chama lar, de chinelo, pijama ou bob na cabeça e os mesmos cacarejos milharescos, longe, muito longe do ar frio das alturas. E Igreja, galinheiro sagrado, em que os cacarejos se transformam em catecismos, as águias são condenadas ao silêncio e quem anda diferente é mandado para o inferno...
Também as escolas, que se especializam nesta curiosa metamorfose de transformar águias em galinhas para que não falte canja. E os pais se rejubilam quando a magia chega ao fim, e as águias solitárias (são sempre perigosas e invisíveis) recebem seus diplomas galináceos.
Agora são iguais como todos os demais: podem arranjar seus empregos, botar seus ovos, chocar seus filhos, até o glorioso momento de serem transformadas em canja...
E é esta coisa a que se dá o nome de Massficação, com a diferença que agora a gente vê aqueles rostos terríveis, galináceos, dos quais desapareceu qualquer vestígio de eternidade, e discutem sobre se devem ou não usar gravata em plenário e acham certo que se fabriquem armas (é bom negócio), ou mesmo onde construir o novo shopping center... e não percebem os sinais do furacão que se aproxima...

E as águias acabam por se convencer que o seu tempo já passou.

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