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quinta-feira, 18 de julho de 2013

::O Filho pródigo e eu...::

A separação do primeiro pecado, a ação do Espírito Santo e a graça divina são manifestas nessa parábola.


No contexto do evangelho de Lucas no capítulo 15, Jesus se vê rodeado de um público misto de pessoas. De um lado aqueles que eram o público-alvo de seu ministério e o motivo de suas orações, os pecadores e publicanos e do outro, um grupo de religiosos preocupados com os ritos e os dogmas e que o condenavam por participar de uma "roda"junto com os pecadores.

Como forma de ensinar-lhes algumas realidades sobre o amor de Deus aos perdidos e sobre sua missão nessa terra, Jesus conta algumas parábolas e dentre elas uma em particular que mostra a história de dois filhos aparentemente muito distintos e em especial ele se prende à experiência do filho que decide viver sua vida a seu modo e a postura do pai que nunca o deixou de amar.

O início do texto mostra a dura decisão daquele filho de pedir sua "parte dos bens"a seus pai. Um aspecto  interessante nessa história é que no contexto judaico a pedida dos bens dos filhos para com os pais só se dava em duas ocasiões: ou de uma divisão familiar por motivos de brigas e contendas ou quando da morte dos pais.  Quando Jesus começa sua história criando tal situação ele está querendo demonstrar que esse filho ou estava "matando seu pai"em seu coração ou estava de fato declarando um rompimento familiar com seu progenitor.

Depois de ter decidido pegar tudo o que era seu por direito e viver intensamente a seu modo, o texto conta que aquele jovem se vê entregue a uma condição sub-humana de vida e percebe o peso que sua decisão de abandonar o conforto e a proteção da casa do pai o causaram.

Em um momento ele estava confortavelmente vivendo sobre a tutela de seu pai, comendo boa comida e tendo todos os benefícios de um filho de pai rico mas cansou de viver aquela vida e talvez influenciado por diversos fatores e desejos íntimos de seu coração considerou que estar junto com seu pai já não era algo que valia a pena e em outro momento comendo e vivendo junto com os porcos em um chiqueiro.

Meses de prazer gastando a herança que lhe era devida "dissolutamente" e após uma grande crise que sobreveio ao lugar onde ele vivia o que restava era a lama, a fome e o frio. Ele decide então, em uma atitude de humilhação e arrependimento voltar para a casa de seu pai. (Lc 15.13-14)

Lendo o texto, percebemos que o pai mesmo aceitando realizar a vontade do filho nunca descartou a idéia de um arrependimento e um retorno do seu filho amado pois, quando o filho aparecera lá longe, no alto da colina os olhos do pai o observaram e ele foi a seu encontro. Prontamente o pai manda preparar-lhe um banquete e o perdoa sem mágoas ou desconfianças. Imagino esse pai sentado em sua cadeira de balanço todos os dias com os olhos fitos no horizonte, desgastado pela dureza dos dias de tristeza e pranto, imaginando o momento de ver a imagem de seu filho amado despontar na estrada!

Um fato que só nos é revelado entendendo o contexto em que Jesus conta essa parábola é que para o pai que ficara havia um sentimento de vergonha e tristeza. Tristeza porque um de seus filhos decidiu "romper" com ele e optou por viver longe daqueles que o amavam e vergonha porque, para a sociedade local esse ato significava que aquele pai não soube criar seu filho ao molde da pureza religiosa da Lei, portanto não era visto pelos outros como um bom pai. Para o filho que partira, ficaram o peso da lei que condenava sua decisão.  Quando lemos ".. vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou e o beijou. Lc 15.20" devemos ver a atitude de proteção e de amor do pai. Evitando qualquer tipo de juízo condenatório sobre seu filho por parte dos "doutores da Lei" aquele senhor rompe até mesmo com a postura que se esperava de um ancião e "corre" para seu filho. Direcionando a ele um carinho que estava repleto de proteção, amor e perdão. Em outras palavras, o pai está declarando à sociedade: - Não julguem ou façam nenhum mal a meu filho, pois eu o perdoei!

Na calorosa recepção há um resgate de dignidade, sentido e valor para o filho que estava perdido e a festa de celebração demonstra a alegria de um pai que tem perto de si novamente o filho amado.

Surge nesse momento, na parábola, um novo personagem. O filho mais velho daquela família que percebendo a grande festa tem uma atitude inesperada, abrupta, mas repleta de ensinamentos.

O texto diz que ao aproximar-se da casa, vindo de um dia de trabalho no campo, ele ouviu a música e a dança e perguntou o que significava tudo aquilo. Ao saber do que se tratava ele se indigna a ponto de não querer entrar sendo então necessário que o pai venha intervir na situação. (Lc 15. 25-28)

Nas palavras desse filho percebemos que ele não estava com o pai pelo fato de amá-lo ou no desejo de servi-lo mas sim pensando de forma meritória, trabalhista e e impessoal. Ele desejava do pai o "justo pagamento" pela sua fidelidade, e seus serviços não se importando com os sentimentos, apenas querendo que seu pai cumprisse o que era dele "de direito" assim como fizera para o irmão mais novo. Para esse o pai não passava de um empregador e um patrão.

Sua repudia o faz desconsiderar a alegria de ter seu irmão de volta e ele demonstra isso exclamando: "vindo, porém, esse teu filho... tu mandaste matar para ele um novilho cevado. Lc 15.30" É importante ver que ele faz uma divisão na família quando diz que o filho era apenas do pai, mas não seu irmão! Jesus mostrava para seus ouvintes como os fariseus viam os pecadores que estavam se aproximando do Pai por intermédio de sua pregação. Para eles, os ímpios não mereciam mais o amor de Deus, uma vez que decidiram caminhar longe da Lei e eles sim é quem deveriam ser honrados, pois viviam policiando suas ações e sua religião pelo alto preço da religiosidade. Para os fariseus, os publicanos e pecadores não eram filhos de Deus e não eram dignos de festa ou de celebração por motivo de seu retorno ao glorioso Pai. O texto então termina com a explicação do pai sobre o motivo daquela festividade e da alegria em seu semblante pois o que estava morto reviveu e perdido, agora achado.

Essa parábola mostra como fomos recebidos pelo nosso Pai no momento em que olhamos para nós e vimos que em Adão o ser humano decidiu viver longe dos domínios do Pai, vivendo sobre nossa própriaégide e "gastando" nossa vida de forma dissoluta. No pecado original decidimos romper com Deus nos afastando para terras distantes onde vivemos sobre nossas próprias regras. Na vida do homem natural sem Cristo mesmo cheio dos recursos desse mundo o que resta será sempre a lama, o frio e a sujeira do pecado mas Deus, ansioso por se encontrar com seus filhos vai ao nosso encontro em um ato de amor, perdão e resgate de nossa identidade mostrando que Ele não mediu esforços e agiu primeiro indo a nosso encontro. Quando caminhamos de retorno aos braços do Pai, ele mesmo garante para que ninguém ou nada nos condene, levantando-se e indo ao nosso encontro nos livrando de qualquer acusação e derramando sobre nós seu perdão e graça.

A separação do primeiro pecado, a ação do Espírito Santo e a graça divina são manifestas nessa parábola nos apontando para o amor de Deus e para a ceia do Senhor. Ele se encontra com seus filhos feridos, famintos, maltratados e moribundos e dá a eles dignidade, amor, honra e proteção.

"porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único Filho para que todo aquele que nele crê não pereça mas tenha vida eterna. Jo. 3.16".

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