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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

- A Lei da Homofobia, o Mackenzie e Barbara Gancia -

Também estou acompanhando a repercussão do manifesto da Barbara Gancia na Folha de São Paulo e também a proporção que tal fato têm alcançado no blog do Marcelo Tas (http://blogdotas.terra.com.br/2010/11/19/nao-a-homofobia/#comments) e assim como mtos não consegui publicar a minha opinião sobre o assunto. Então aqui vai o texto da autora e logo após minhas considerações:

O SAMBA DO NICODEMUS

Barbara Gancia

Folha de S. Paulo, 19/11/2010


DIGAMOS QUE VOCÊ goste mais de azul que de cor de laranja. Ou que, dentre todas as verduras, nutra uma predileção especial pelo brócolis. Ou, ainda, que simpatize mais com o poodle do que com o weimaraner. Agora digamos que alguém decida isolar este tipo de característica e usar apenas essa única informação para defini-lo como ser humano.

De repente, em vez de ser, quem sabe, loiro ou moreno, carioca ou paulista, “baby boomer” ou membro da “Geração X”, extrovertido ou travado, torcedor do Bangu ou do Santos, colecionador de selos ou de fracassos sentimentais, enfim, em vez de ser tantas coisas ao mesmo tempo na sua infinita complexidade, imagine se você fosse apenas alguém que gosta de brócolis? ”Lá vai fulano”, diriam. “Ouvi dizer que gosta de brócolis”. Não seria um reducionismo perverso? Sujeito é um virtuoso do cello, o outro está trabalhando para desvendar o genoma humano e o pessoal interessado num único atributo: “O que será que ele faz com o brócolis entre quatro paredes?”

Ao longo da semana, a Universidade Mackenzie retirou de seu site, sob protestos, um manifesto contra o projeto de lei que pretende criminalizar a homofobia. Assinado pelo reverendo Augustus Nicodemus Gomes Lopes, o texto diz coisas assim: “As Escrituras Sagradas ensinam que Deus criou a humanidade com uma diferenciação sexual (homem e mulher) e com propósitos heterossexuais específicos (…) A Igreja Presbiteriana do Brasil manifesta-se contra a aprovação da chamada lei da homofobia por entender que ensinar e pregar contra a prática do homossexualismo não é homofobia, por entender que uma lei dessa natureza maximiza direitos a um determinado grupo de cidadãos, ao mesmo tempo em que minimiza, atrofia e falece direitos e princípios já determinados principalmente pela Carta Magna. E por entender que tal lei interfere diretamente na liberdade e na missão das igrejas de todas orientações de falarem sobre o comportamento ético de todos, inclusive dos homossexuais.”


Será que pregar contra aqueles que gostam de brócolis é simples exercício da liberdade de expressão? E nascer gostando de brócolis seria “opção leguminosa?” O reverendo Nicodemus quer que a Igreja mantenha intacto o direito de criticar a homossexualidade. Entendo o ponto de vista, afinal, a condenação a uma minoria ajuda a manter o rebanho forte e unido. Mas, dá para fazer melhor. Olha só a ideia genial que eu acabo de ter: já que os gays cansaram de apanhar, deram para se organizar e conquistaram inclusive o poder de pressionar para ver criadas leis que os protejam na marra, sugiro que se passe a discriminar um novo grupo.

Alô, reverendo Nicodemus! Os judeus a gente descarta de cara. Crucificação e Hitler ainda estão muito frescos na memória, não é mesmo? Que tal partir para uma coisa mais dissimulada, que o povo encontre em todo lugar, mas que seja uma minoria mesmo assim? E como brócolis também é manjado e muita gente gosta, pensei nas pessoas que apreciam as alcaparras. Veja se o discurso encaixa: “A alcaparra em si é uma criação divina, mas desejar a alcaparra é ceder à tentação, é usar o corpo para propósitos outros do que aqueles que o Senhor entendeu para nós”. Não dá o maior samba, Nicodemus?



"Senhores e senhoras, após ler todos os comentários relevantes sobre esse texto e perceber a profundidade e a relevância q o assunto em questão tem tomado gostaria de fazer algumas ressalvas acerca das implicações nas entrelinhas por mim detectadas:
1. Ao tratar de tal assunto a autora do texto não se aprofunda com a seriedade e reverência necessária para as Escrituras. Não parte para Ela com o olhar de submissão e respeito e para entender que da mesma forma q Jesus condenou a prática do adultério da mulher adultera e em nenhum momento a condenou, a igreja e todos os seus pressupostos e axiomas não condena o homossexual, ao contrário, o ama, mas condena sim a prática comportamental da homossexualidade por entender que ela não é o ideal divino descrito para os seres humanos.

2. Lendo alguns comentários (diga-se de passagem discriminatórios) de alguns que defendem a opnião homossexual sobre a aversão dos heterossexuais e todo o sentimento de perseguição em que vivem automaticamente reflito sobre a questão de estarmos fragilizando ainda mais nossas leis repartindo entre grupos de minorias e não pensando no coletivismo das leis. Se continuarmos assim teremos grupos e leis especificas para todos os segmentos que se acham perseguidos e mais problemas futuros advindos dessa atitude. Hoje luta-se a favor ou contra a Lei da homofobia e quando for pauta da mídia o preconceito geográfico, monetário, comportamental, religioso, etc. Qual será a régua que servirá para medir e qual bússola servirá para direcionar?

3. É inadmissível que a discussão de uma lei nacional seja discutida por suposições e comparações baratas e diga-se confusas e mal elaboradas. Acho que textos assim como o da autora que não aceitam o direito cristão de "protestar" e exercer seu papel real afastam ainda mais todos os segmentos religiosos de uma fé que aponte para um mesmo norte. Ouvir opniões contrárias, aceitá-las e conviver com elas faz parte da natureza da sociedade, ou do contrário, estamos apenas alimentando o monstro do proconceito cada dia mais

4. por fim, sou cristão protestante, reformado, conservador, e sou discriminado e rotulado por isso. As vezes me sinto ofendido e insultado, mas para cada escolha que fazemos há consequências a fatos agregados. Como devo me portar frente a isso? Acredito que acima de questões tão sérias como essas apontadas aqui somos levados a um exercicio de nossa coerência e entender que o Mackenzie e seus professores e alunos são uma instituição guiada por um principio, o principio bíblico e que ele devem ter o direito de se expressar desde que baseados no que acreditam sem desrepeitar as opniões alheias.
Fica aí minha contribuição."

Um comentário:

Unknown disse...

Muita lucidez.
Parabéns.
Deus te abençoe, brother.