"Vigiem e orem para que não
caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca". Mt. 26.41
A tentação é
um daqueles temas que aterroriza a muitos cristãos. Quando ela vem e percebemos
que se trata de uma verdadeira “tentação” buscamos sempre um sólido fundamento
para combater teológica, bíblica e espiritualmente tudo aquilo que tem o poder
de nos “tentar”. Mas, como um cão que hora ou outra corre atrás do próprio
rabo, quando pensamos que vencemos as tentações, eis que surgem outras tantas e
tudo começa novamente.
Jacques
Ellul, renomado teólogo, sociólogo e filósofo francês, em seu livro Se és o Filho de Deus, publicado pela
editora Palavra, traz uma importante reflexão sobre o papel e o propósito da
tentação na vida do cristão, partindo de um simples questionamento sobre como
Jesus resistiu as tentações deste mundo carnal. Após ser impactado com esta
leitura refleti sobre um texto bíblico onde Jesus alerta sobre os perigos das
tentações para seus discípulos e cheguei a algumas direções:
a.
É preciso dizer primeiramente e muito
nitidamente que Deus não tenta ninguém (Tg 1.13). Deus jamais sentiria prazer
em colocar seus filhos à prova para ver se sua fé e seu amor subsistem. Não,
Deus não é sádico e não compactua com essa pseudoteologia de que Ele nos tenta
ou “prova” para ver se merecemos suas bênçãos. Essa ideia meritória da salvação
que vê no sofrimento e nas tentações a mão de Deus lapidando seu povo enquanto
dificulta sua caminhada aqui na terra não condiz com as Sagradas Escrituras.
b. Percebemos
que nas tentações há muito mais do humano do que do espiritual (entendo que
Satanás se aproveita dessa situação para potencializar o teor das tentações!).
Tiago escreve claramente: “Cada um,
porém, é tentado pelo seu próprio mau desejo, sendo por este arrastado e
seduzido.” Tg 1.14. Observa-se em uma leitura mais atenciosa desse texto
que a chave para o êxito de toda tentação é a cobiça que está em cada ser
humano. Essa cobiça engloba todas as vertentes do pecado e remete ao pecado que
se originou primeiramente em Lúcifer. Cobiçamos a vida, o status, o poder e o
lugar do outro. Tudo vem dessa cobiça desde o Éden. Eva cobiçou o fruto da
árvore, cobiçou a autoridade do Criador e cobiçou o lugar do Soberano – “Vocês serão como deuses capazes de dizer o
que é bom e o que é mau..” disse a serpente. A tentação esteve diretamente
ligado com a cobiça de ser igual a Deus.
c.
Uma vez que a cobiça é algo interior do ser
humano, a tentação é algo exterior que potencializa a satisfação dessa cobiça,
gerando assim o pecado e com o pecado, a morte. É preciso que haja uma
circunstância exterior que desperte a cobiça. O homem sedento por dinheiro não
roubaria se não tivesse encontrado uma possibilidade real de subtrair do outro.
Cobiça é algo de dentro, tentação é algo circunstancial que explora o que tem
dentro. Nas palavras de Ellul “... a
tentação é a conjunção entre essa cobiça e essa circunstância.” (p. 20).
Voltando ao texto bíblico que possibilitou essa reflexão Jesus
disse: "Vigiem e orem para que não
caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca".
Jesus usou uma fórmula maravilhosa que nos ensina a fugir e também
a vencer as tentações que nos rodeiam e que às vezes são tão sutis que nem
percebemos quando ela nos dominam e nos fazem cair. Ele, que também foi tentado
em todas as coisas, mas não pecou. (Hb 4.15) sabe do perigo da cobiça nos
corações dos homens decaídos e o poder das tentações em fazer essa cobiça vir a
tona e usa, propositalmente em uma ocasião extremamente propícia, dois verbos
que na sua língua original tem conotações bem específicas. São eles:
Vigiar -
esse verbo usado por Jesus
geralmente era usado no contexto militar e conota para um soldado alerta ao
menor sinal inimigo. Era o verbo usado para dar comando ao sentinela da torre
em tempo de guerra para que ele não tirasse os olhos dos limites do acampamento
para que assim que percebesse qualquer movimentação estranha alertasse o
exército em prontidão. Quando observarmos algo que pode ser potencialmente
tentador, devemos identifica-lo com antecedência para não sermos surpreendidos e
prontamente seguir para o próximo passo: a oração. a tentação nem sempre vem de
maneira definida, às vezes ela se camufla nos arbustos ou por trás das árvores
e somente olhos vigilantes e atentos são capazes de reconhece-la.
Lutero uma vez disse: "Você não pode evitar que um pássaro
voe pela sua cabeça, mas pode evitar que ele faça um ninho!"
Orar - indica nossa
insuficiência para conseguir por nossas forças vencer a tentação e é o socorro
para que o Pai nos dê estratégias para não cair em tentação. É nesse sentido
que a oração nos fortalece, pois literalmente clamamos ao Pai e ele nos ouve e
responde nos dando forças para resistir,
lutar e fugir. Nunca venceremos uma tentação sem pedirmos que o Espírito
Santo nos livre e que o Pai nos ajude, somente em Deus somos capazes de não
sermos derrotados.
Uma vez que a tentação estimula a cobiça, a oração tem um papel de
domador de nossas cobiças ao confessarmos nossa miséria humana e clamarmos pelo
auxílio do alto.
Esses conselhos de Jesus são preciosos para a igreja em tempos tão
difíceis e são o caminho seguro para uma vida de dependência e de livramentos
em nome do Senhor. Se vigiarmos e orarmos certamente teremos um auxílio divino
para não cairmos em tentação e nos livrando do mal.
Pr. Madson
Oliveira
Um comentário:
Muito boa sua reflexão sobre o assunto, somos soldados muitas vezes despreparados para enfrentar o inimigo, ele sagaz, sabe das nossas fraquezas nos leva diretamente ao alvo, mas graças ao Pai, temos armas poderosas para em algumas vezes contra-atacar em outras ocasiões não sermos atingidos.
Parabéns pelo blog!!
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